Rastreamento do câncer de próstata: prejuizos claros com benefícios vagos

O câncer de próstata é o segundo câncer mais comum nos homens por todo o mundo, e se resume amplamente em dois tipos. Alguns homens têm uma forma agressiva da doença. Esses cânceres perigosos espalham-se rapidamente e a taxa de mortalidade é elevada. No entanto, muitos homens têm cânceres que evoluem lentamente e nunca progrediriam até o ponto de ameaçar a saúde. Idealmente, um teste de rastreamento detectaria os cânceres perigosos – com a esperança de que eles pudessem ser tratados –, mas não os que evoluem lentamente. Isso acontece porque o tratamento de qualquer tipo do câncer de próstata acarreta risco de efeitos colaterais agonizantes, como incontinência e impotência: um preço elevado a pagar se o câncer não tivesse causado problema algum em primeiro lugar.

Os níveis sanguíneos de uma substância chamada antígeno prostático específico (PSA) são elevados na maioria dos pacientes com câncer de próstata. No entanto, não existe um nível claro definido que diferencie os homens com câncer dos sem câncer, e um em cada cinco com câncer clinicamente significativo terá níveis de PSA normais. Além disso, apesar do seu nome, PSA não é “específico”. Por exemplo, os tumores de próstata não cancerígenos, as infecções e até mesmo os analgésicos vendidos sem receita médica podem causar níveis de PSA elevados. Nesses termos, por si mesmo, o PSA possui claramente limitações como teste de rastreamento. No entanto, os testes de rotina do PSA em homens saudáveis foram promovidos com entusiasmo para o rastreamento do câncer de próstata por grupos de profissionais e de pacientes, e ainda por empresas que vendiam testes, tendo sido amplamente adotados em muitos países. O lobby a favor do rastreamento do PSA foi especificamente reivindicativo nos Estados Unidos, onde se estima que, a cada ano, 30 milhões de homens são testados, acreditando que essa é a coisa mais sensata a fazer. Então, qual é a evidência de que a detec- ção precoce do câncer de próstata com rastreamento do PSA melhora o prognóstico, e o que é conhecido sobre os prejuízos associados aos testes?

A evidência de alta qualidade relativa aos benefícios e aos prejuízos do rastreamento do PSA está sendo disponibilizada atualmente. Em 2010, os resultados de todos os estudos relevantes foram sistematicamente revisados. Essa avaliação mostrou que, embora o rastreamento do PSA tenha aumentado a probabilidade de ser diagnosticado com câncer de próstata (como seria previsto), não houve impacto significativo na taxa de mortalidade decorrente do câncer ou na taxa de mortalidade geral.

Então, a maré está se virando contra o rastreamento do PSA? Richard Ablin, descobridor do PSA, certamente pensa que isso devia acontecer e há anos vem se manifestando. Em 2010, ele comentou: “Nunca sonhei que a descoberta que fiz há quatro décadas levaria a esse desastre da saúde pública orientado para os lucros. A comunidade médica deve confrontar a realidade e parar a utilização indevida do rastreamento do PSA. Fazendo isso, pouparia bilhões de dólares e resgataria milhões de homens de tratamentos desnecessários e debilitantes”. Quando muito, todos os homens, antes de serem submetidos ao teste do PSA, deveriam ser informados sobre as limitações do teste e sobre as possíveis consequências adversas. Como um grupo de especialistas observou: “[os homens] deveriam ser informados de que o teste não consegue dizer [a eles] se têm um câncer potencialmente fatal e que pode levá-los a passar por um emaranhado de testes e tratamentos que poderiam ser evitados”.