Alguém é normal?

Tomografia computadorizada do corpo inteiro

Entre os testes ofertados em clínicas privadas, estão as tomografias computadorizadas (TC) do corpo inteiro para ver cabeça, tórax, abdome e pelve. São oferecidas diretamente ao público e, normalmente, realizadas sem pedido do médico clínico da pessoa ou dos postos de saúde. As TC de corpo inteiro são muitas vezes promovidas como forma de manter um passo à frente da possível doença, com a premissa de que um resultado “normal” será reconfortante. Essas tomografias não só são dispendiosas como também não existe evidência de que qualquer benefício geral de saúde seja alcançado, realizando esses testes em pessoas sem sintomas ou sinais de doença.

Além disso, a exposição à radiação é considerável – cerca de 400 vezes mais do que em uma radiografia do tórax. Tanto que, em 2007, o Comitê sobre Aspectos Médicos de Radiação no Ambiente (COMARE) do Reino Unido recomendou fortemente que os “serviços” oferecendo o rastreamento com TC de corpo inteiro de indivíduos assintomáticos deviam descontinuar esse método.

Em 2010, após consulta, o governo anunciou a sua intenção de introduzir regras mais rígidas para usar TC de corpo inteiro. Da mesma forma, a FDA dos Estados Unidos avisou o público de que não há benefícios comprovados dessas TC para pessoas saudáveis, comentando: “Muitas pessoas não entendem que fazer uma TC de corpo inteiro não oferece necessariamente a paz de espírito que tanto anseiam, ou a informação que as permitiria prevenir um problema de saúde. A descoberta de uma anomalia, por exemplo, pode não ser grave e uma descoberta normal pode ser imprecisa”.

Encontrar um equilíbrio

Encontrar um equilíbrio entre a procura exageradamente zelosa de doenças e a falha na identificação de pessoas que podem se beneficiar da detecção precoce jamais será uma tarefa fácil e, inevitavelmente, conduzirá a decisões pouco populares. Todos os sistemas de saú- de precisam usar os seus recursos economicamente, para que toda a população se beneficie disso. Esse princípio fundamental certamente significa que os programas de rastreamento devem não só se basear em evidência sólida quando introduzidos como também ser mantidos sob revisão para verificar se são úteis conforme surgem mais evidências e as circunstâncias se alteram. Uma consideração séria é se os programas de rastreamento deviam ser oferecidos a grandes setores da população ou mais direcionados para as pessoas com alto risco de uma determinada condição.