Talidomida

A talidomida é um exemplo especialmente arrepiante de um novo tratamento médico que foi mais prejudicial do que benéfico. Esse soní- fero foi introduzido no final da década de 1950 como uma alternativa aparentemente segura aos barbitúricos, que eram normalmente prescritos naquela época; ao contrário dos barbitúricos, as doses excessivas de talidomida não levavam ao coma. A talidomida era recomendada especialmente para mulheres grávidas, nas quais era também utilizada para aliviar as náuseas matinais.

Mais tarde, no início da década de 1960, os obstetras começaram a perceber um aumento acentuado nos casos de membros gravemente deformados em recém-nascidos. Essa condição, considerada rara anteriormente, resultava em membros extremamente curtos, em que mãos e pés pareciam sair diretamente do corpo. Médicos na Alemanha e na Austrália ligaram essas deformações com o fato de as mães terem tomado talidomida no início da gravidez. No final de 1961, o fabricante retirou a talidomida do mercado. Vários anos mais tarde, após campanhas públicas e ações judiciais, as vítimas come- çaram a receber as compensações. O preço dessas deformações devastadoras era elevadíssimo – nos cerca de 46 países em que a talidomida foi prescrita (em alguns países foi até vendida sem receita médica), milhares de bebês foram afetados. A tragédia abalou os mé- dicos, a indústria farmacêutica e os pacientes e levou a uma reestruturação mundial do processo de desenvolvimento e licenciamento de medicamentos.

 

[i] Vandenbroucke JP. Thalidomide: an unanticipated adverse event. 2003. Disponível a partir de: www.jameslindlibrary.org.

[ii] Stephens T, Brynner R. Dark medicine: the impact of thalidomide and its revival as a vital medicine. Cambridge, Mass: Perseus Publishing, 2001.